06-02-2015 9:38:40
O emprego é um direito reconhecido constitucionalmente, mas estima-se que a taxa de desemprego de pessoas com deficiência seja duas a três vezes superior à dos restantes cidadãos. O Estado criou um programa para fomentar políticas de emprego, no entanto, estas medidas, segundo a Associação Portuguesa de Deficientes, não têm tido grande impacto na contratação. As autarquias, contudo, têm sido das poucas entidades da administração pública que têm cumprido e foi lá que Manuel Carrilho, Patrícia Ramos, Romão Janeiro e Dália Lampreia encontraram a sua oportunidade. Quatro histórias, de quatro funcionários públicos
Texto Bruna Soares Fotos José Ferrolho
Não há ninguém na rua. A chuva insiste em cair. São 17 horas e o céu ainda não deu tréguas. A calçada está molhada e as rodas da cadeira onde Manuel Carrilho está sentado, à porta do Núcleo da Basílica Paleocristã do Museu de Mértola, confirmam-no. É aqui que agora trabalha. Antes, antes da maldita febre da carraça, que o atacou naquele verão que mais valia ter sido inverno, era contínuo do pavilhão de desportos da Câmara de Mértola.
Manuel Carrilho, há oito anos, pegou na mulher e na filha e foram passar o dia à praia. Fizeram-se logo cedo à estrada. O Algarve ainda estava a uns quilómetros de distância. A manhã foi passada entre um mergulho e outro. Depois chegou a hora de almoço e logo depois a da folga. “Estiquei uma mantinha, debaixo de uns pinheiros, e deitei-me. Passámos o dia e quando regressámos à estrada parece que já via os carros ao contrário. Comecei com tonturas e fui ao médico. Depois, com a febre, vieram os delírios. Fui outra vez ao centro de saúde e continuava sem diagnóstico. Fui mais tarde para o hospital. Estava à espera de ser consultado e caí para o lado. Entrei em coma, estive assim 17 dias. Quando acordei, não conseguia mexer nada, nem braços, nem pernas”.
Seguiram-se sessões de fisioterapia, tantas outras de acompanhamento psicológico. Manuel Carrilho perdeu a mobilidade nos membros inferiores. Quando regressou ao trabalho, à Câmara de Mértola, foi reconvertido nos serviços. Agora atende os turistas que visitam a igreja paleocristã e, quando necessário, está ainda na receção da Casa das Artes.
“Foram sensíveis ao que me aconteceu e deram-me um novo serviço. Gosto de atender as pessoas. Mas o que gostava mesmo era de fazer o que fazia antes, mas que agora se tornou impossível. Nunca me imaginei nesta situação, mas ninguém se imagina até estar”. Manuel, porém, ainda não perdeu a esperança de voltar a andar, que mais não seja apoiado em muletas. “Queria mesmo era deixar a cadeira e estou a fazer progressos”, conta agora com os olhos de cor azul arregalados, que combinam com o casaco que enverga. E a chuva não deixa de cair.
Manuel está ao serviço da Câmara de Mértola e todas as restantes câmaras do distrito de Beja, segundo apurou o “Diário do Alentejo”, têm integradas pessoas com deficiência ou incapacidade.
“As autarquias têm sido das poucas entidades da administração pública que têm dado cumprimento à quota de emprego para as pessoas com deficiência. E, em nossa opinião, a integração destas pessoas deve estender-se, não apenas às autarquias, mas às restantes entidades da administração pública, bem como ao setor privado”, dizem, por sua vez, Ana Sezudo e Carla Nascimento, da Associação Portuguesa de Deficientes (APD). Que recordam ainda que “o decreto-lei n.º 290/2009 criou o Programa de Emprego e Apoio à Qualificação de Pessoas com Deficiência e estipulou o regime de concessão de apoio técnico e financeiro para o desenvolvimento das políticas de emprego e apoio à qualificação”, mas que, “no entanto, estas medidas não têm tido grande impacto na contratação de pessoas com deficiência”.
Apesar da ampla afirmação, uma vez que o emprego para portadores de deficiência é um direito reconhecido na Constituição da República Portuguesa, na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, a realidade nem sempre é esta. “Infelizmente as pessoas com deficiência continuam a ser discriminadas, quer por preconceito, ao julgar-se que são menos produtivas que as restantes, quer pela inacessibilidade ao meio físico, aos transportes, à informação e à comunicação. As pessoas com deficiência não gozam das mesmas oportunidades que os restantes cidadãos”, afirmam as representantes da APD. Que acrescentam ainda: “Estima-se que o desemprego de pessoas com deficiência seja duas a três vezes superior aos trabalhadores sem deficiência e infelizmente não existem dados concretos quanto à taxa de emprego/desemprego de pessoas com deficiência no nosso País. Existem ainda estudos europeus que apontam que as pessoas com deficiência são as últimas a ser contratadas e as primeiras a serem despedidas”.
ver todo texto aqui
Manuel Carrilho, há oito anos, pegou na mulher e na filha e foram passar o dia à praia. Fizeram-se logo cedo à estrada. O Algarve ainda estava a uns quilómetros de distância. A manhã foi passada entre um mergulho e outro. Depois chegou a hora de almoço e logo depois a da folga. “Estiquei uma mantinha, debaixo de uns pinheiros, e deitei-me. Passámos o dia e quando regressámos à estrada parece que já via os carros ao contrário. Comecei com tonturas e fui ao médico. Depois, com a febre, vieram os delírios. Fui outra vez ao centro de saúde e continuava sem diagnóstico. Fui mais tarde para o hospital. Estava à espera de ser consultado e caí para o lado. Entrei em coma, estive assim 17 dias. Quando acordei, não conseguia mexer nada, nem braços, nem pernas”.
Seguiram-se sessões de fisioterapia, tantas outras de acompanhamento psicológico. Manuel Carrilho perdeu a mobilidade nos membros inferiores. Quando regressou ao trabalho, à Câmara de Mértola, foi reconvertido nos serviços. Agora atende os turistas que visitam a igreja paleocristã e, quando necessário, está ainda na receção da Casa das Artes.
“Foram sensíveis ao que me aconteceu e deram-me um novo serviço. Gosto de atender as pessoas. Mas o que gostava mesmo era de fazer o que fazia antes, mas que agora se tornou impossível. Nunca me imaginei nesta situação, mas ninguém se imagina até estar”. Manuel, porém, ainda não perdeu a esperança de voltar a andar, que mais não seja apoiado em muletas. “Queria mesmo era deixar a cadeira e estou a fazer progressos”, conta agora com os olhos de cor azul arregalados, que combinam com o casaco que enverga. E a chuva não deixa de cair.
Manuel está ao serviço da Câmara de Mértola e todas as restantes câmaras do distrito de Beja, segundo apurou o “Diário do Alentejo”, têm integradas pessoas com deficiência ou incapacidade.
“As autarquias têm sido das poucas entidades da administração pública que têm dado cumprimento à quota de emprego para as pessoas com deficiência. E, em nossa opinião, a integração destas pessoas deve estender-se, não apenas às autarquias, mas às restantes entidades da administração pública, bem como ao setor privado”, dizem, por sua vez, Ana Sezudo e Carla Nascimento, da Associação Portuguesa de Deficientes (APD). Que recordam ainda que “o decreto-lei n.º 290/2009 criou o Programa de Emprego e Apoio à Qualificação de Pessoas com Deficiência e estipulou o regime de concessão de apoio técnico e financeiro para o desenvolvimento das políticas de emprego e apoio à qualificação”, mas que, “no entanto, estas medidas não têm tido grande impacto na contratação de pessoas com deficiência”.
Apesar da ampla afirmação, uma vez que o emprego para portadores de deficiência é um direito reconhecido na Constituição da República Portuguesa, na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, a realidade nem sempre é esta. “Infelizmente as pessoas com deficiência continuam a ser discriminadas, quer por preconceito, ao julgar-se que são menos produtivas que as restantes, quer pela inacessibilidade ao meio físico, aos transportes, à informação e à comunicação. As pessoas com deficiência não gozam das mesmas oportunidades que os restantes cidadãos”, afirmam as representantes da APD. Que acrescentam ainda: “Estima-se que o desemprego de pessoas com deficiência seja duas a três vezes superior aos trabalhadores sem deficiência e infelizmente não existem dados concretos quanto à taxa de emprego/desemprego de pessoas com deficiência no nosso País. Existem ainda estudos europeus que apontam que as pessoas com deficiência são as últimas a ser contratadas e as primeiras a serem despedidas”.
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