quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Peça infantil "O som das cores" leva arte do teatro a deficientes visuais

O espetáculo infantil O som das cores, da Catibrum Teatro de Bonecos, pode até não ser novidade na cena de Belo Horizonte, mas o recurso que a companhia adotou nesta temporada da Campanha de Popularização do Teatro traz uma inovação importante. Até dia 23, a peça, que conta a história de uma adolescente cega, contará com o recurso da audiodescrição em todas as sessões. 

Funciona assim: ao entrar no teatro, cada cego recebe um kit com fone e caixinha receptora. Nos bastidores, a audiodescritora Flávia Durães narra tudo o que se passa em cena. “Audiodescrição é um campo de conhecimento que transita pela tradução. Procura-se traduzir a imagem em palavras”, explica o educador Flávio Oliveira, consultor do espetáculo. 

Portador de deficiência visual, Oliveira acompanhou de perto o processo de criação de O som das cores. Adotar o recurso foi ideia dele, que cuidou também de elaborar o roteiro e ensaiou com Flávia Durães. “O desafio é manter a emoção do espetáculo”, conta ela. Apesar de ter o roteiro em mãos, é preciso ficar atenta, pois a audiodescrição deve incorporar as improvisações dos atores. 

A dramaturgia de O som das cores é assinada por Lelo Silva a partir do poema “O cego”, de Rainer Maria Rilke e do livro homônimo ao espetáculo, do autor taiwanês Jimmy Lia. Para o diretor, é uma das montagens mais consistentes da Catibrum. “Ela contou com envolvimento tão grande de tanta gente que resultou numa coisa grandiosa”, comenta Lelo. A trilha sonora foi composta pela banda Graveola e o Lixo Polifônico. 

“É espetacular perceber como as pessoas com deficiência visual podem ter acesso ao teatro, emocionando-se com o que ocorre em cena”, explica Flávio Oliveira. Apesar de pouco empregada, a audiodescrição tem atraído interesse no Brasil, afirma Flávia Durães. É o primeiro passo para a democratização do acesso à cultura. 

O cego

Ele caminha e interrompe a cidade,
que não existe em sua cela escura,
como uma escura rachadura
numa taça atravessa a claridade.

Sombras das coisas, como numa folha,
nele se riscam sem que ele as acolha:
só sensações de tato, como sondas,
captam o mundo em diminutas ondas:

serenidade; resistência – 
como se à espera de escolher alguém, atento,
ele soergue, quase em reverência,
a mão, como num casamento.

Poema de Rainer Maria Rilke

O SOM DAS CORES
Com Cia. Catibrum Teatro de Bonecos. Hoje e amanhã, às 16h. Funarte MG. Rua Januária, 68, Floresta, Belo Horizonte. Ingressos: R$ 8 (postos do Sinparc), R$ 20 (inteira/bilheteria) e R$ 10 (meia-entrada).

Fonte: site do Jornal Estado de Minas por Carolina Braga.

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