segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A criança começa a aprender a língua no ventre materno. jornal "Le Monde"

A criança começa a aprender a língua no ventre

Sabia que:
  "Se o feto é exposto a ambientes ruidosos ou em ambientes onde o som não é organizado, como local de trabalho da mãe grávida, a experiência pode levar a criança a uma organização aberrante das estruturas centrais do sistema auditivo, o que poderá, eventualmente, afectar a sua percepção e aprendizagem de línguas."

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Aprendemos  em qualquer idade. Inclusive antes mesmo vir ao mundo? Para os pesquisadores interessados ​​na aquisição da linguagem, os índices nesse sentido têm-se multiplicado nos últimos anos. Sabemos agora que, graças aos sons que chegavam a ele  no útero , o recém-nascido tenha analisado e decifrado uma série de informações: ele reconhece (e prefere) a voz de sua mãe, o son do genérico do folhetim que a sua mãe assistiu durante ao longo de sua gravidez, mas também, mais a sério, as inflexões do que será sua primeira língua. A equipe também mostrou que, em 2009, a doce melodia do choro infantil foi moldada por essa linguagem.

Todos estes índices  sugerem que o cérebro do feto é capaz de começar a decifrar a linguagem e para armazenar alguns itens. O desafio  para confirmar esta hipótese é esta pequena proeza que acaba de completar uma equipe de pesquisadores finlandeses e holandeses num estudo publicado a 26 de Agosto nos  Proceedings  da National Academy of Sciences. Para conseguir isso, eles recrutaram trinta casais à espera de um acontecimento feliz. A metade deles, deram um CD contendo um registo de oito minutos em que uma palavra inventada por três sílabas (tatata) foi repetido centenas de vezes, com duas variantes. A primeira foi uma mudança de vogal (tatota), a diferença do segundo tom na segunda sílaba. O conjunto foi intercalada com canções sem palavras.Electro-encéphalogramme-sur-un-nouveau-né-destiné-à-tester-ce-quil-a-appris-in-utero.-©-Veikko-Somerpuro-Université-dHelsinki

As Gestantes  seguiram as instruções bastante simples: a partir da 29 ª  semana de gestação (a partir do qual o sistema auditivo do feto está operacional) e até o final, elas transmitiram o conteúdo do disco de cinco a sete vezes por semana, de preferência sempre à mesma hora do dia. Elas não deviam, durante esta curta operação, não falar nem cantar. Em média, o "tatata" em suas diversas formas foi ouvida mais de 25 mil vezes pelo feto durante a aprendizagem. Restava esperar o nascimento. Nos dias que se lhes seguiram, os pesquisadores passavam um electroencefalograma  (ver foto acima)  para crianças, monitorando a reacção do cérebro a ouvir um disco que contém o famoso "tatata". A experiência tem mostrado que os bebés que completaram o treinamento reconheceram a palavra inventada e suas variantes, enquanto o grupo de controle as não reconheceram.

Não somente este trabalho  fornece um protocolo forte para detectar, imediatamente após o nascimento, as memórias armazenadas que os bebês durante a sua vida intra-uterina, mas também mostra que a criança começa a aprender a língua no ventre materno . Os autores do estudo apontam que a permeabilidade do cérebro fetal aos sons tem um duplo risco:  "Se o feto é exposto a ambientes ruidosos ou em ambientes onde o som não é organizado, como local de trabalho da mãe grávida, a experiência pode levar a criança a uma organização aberrante das estruturas centrais do sistema auditivo, o que poderá, eventualmente, afectar a sua percepção e aprendizagem de línguas. "  Esses pesquisadores, portanto, recomendam que se preste muita atenção ao meio ambiente sonoro, mesmo quando ela é invisível, antes de seu nascimento.

Pierre Barthélémy

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

É SEMPRE RECONFORTANTE LER PALAVRAS AMIGAS E DE REFORÇO POSITIVO



Olá Janeiro.
Parabéns pelo blogue! Acho de uma importância vital que se fale nestes assuntos sem ser com palavras vagas e pouco comprometidas. Propostas concretas e vontade de as pôr em prática é o que faz verdadeira diferença na vida das pessoas. Acho que a sua perspectiva e o seu empenho neste assunto, e em particular no movimento Por Beja com Todos, torna este movimento único. Espero que este alerta, das pessoas e das instituições, dê muitos frutos, porque esse é o caminho para uma sociedade mais justa e igual.

Um abraço,

Acabei de dá uma olhada no seu blog Acessibilidade.
Ontem estávamos falando a respeito desse assunto, que nas escolas municipais e
 até mesmo as estaduais não tem rampas . 
E falam de acessibilidade, mas na prática -nada
Parabéns pela iniciativa , é louvável.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Conceito de acessibilidades em museus no âmbito da deficiência

Capa MIDAS 02Ao longo dos últimos dez anos a agenda europeia tem colocado em evidência a inclusão social na campo das suas políticas prioritárias, através de medidas e planos de ações, que têm vindo a contribuir não só para as alterações legislativas mas também ao nível da sensibilização dos vários agentes sociais. Para responder aos desafios impostos na prática da inclusão social, são cada vez mais os museus interessados, ou preocupados, em refletir acerca das suas relações com os públicos, que no panorama museal da atualidade, exigem novas formas de abordagem. Uma delas é, sem dúvida, o conceito de acessibilidades, como resultado do modelo social da deficiência. Consequentemente, algumas questões imperam na aceção desta temática. Que desafios coloca este modelo às práticas museais tradicionalmente estabelecidas? Que transformações se processam no conceito de acesso ao museu? Quais as consequências do impacto europeu na ação dos museus nacionais? São estas questões–chave que se procurará desenvolver ao longo do presente artigo. Ver o texto integral aqui

COM OS DEVIDOS AGRADECIMENTOS AO ZÉ MORGADO http://atentainquietude.blogspot.pt/

Quinta-feira, 26 de Setembro de 2013

OS PROBLEMAS ESPECIAIS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

O Movimento para a Manutenção das Reformas dos Deficientes solicitou ao Presidente da República, Governo e aos grupos parlamentares que os cidadãos com deficiência possam ficar isentos dos cortes de 10% previstos para as reformas acima de 600€, tal como irá acontecer com os deficientes das Forças Armadas.
Algumas notas sobre esta matéria que não são informadas por qualquer discurso de natureza paternalista ou assistencialista, mas colocadas num plano de direitos humanos, de discriminação positiva de pessoas em situação particularmente vulnerável e na não aceitação do princípio de que equidade significa igualdade.
Talvez os burocratas que nos governam ou mandam em quem governa não saibam, por exemplo, que o desemprego no grupo social das pessoas com deficiência terá aumentado cerca de 70 % face a 2011, e estima-se que actualmente ronde os 75 %, uma taxa catastrófica.
Sabemos que os recursos são finitos e os tempos de contenção, mas pode-se afirmar que para as pessoas com deficiência os tempos sempre foram de recursos finitos e de contenção, ou seja, as dificuldades são recorrentes e persistentes.
Um estudo realizado, creio que em 2010, pelo Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, apontava para que uma pessoa com deficiência tenha um gasto anual entre 6 000 e 27 000 € decorrentes especificamente da sua condição e considerando diferentes quadros de deficiência. Este cálculo ficou incompleto porque os investigadores não conseguiram elementos sobre os gastos no âmbito do Ministério da Saúde.
O estudo, para além das dificuldades mais objectiváveis, referenciou ainda os enormes custos sociais, não quantificáveis facilmente, envolvidos na vida destes cidadãos e que têm impacto no contexto familiar, profissional, relacional, lazer, etc.
Creio também que é justamente no tempo em que as dificuldades mais ameaçam a generalidades das pessoas que se avoluma a vulnerabilidade das minorias e, portanto, se acentua a necessidade de apoio e de políticas sociais mais sólidas, mais eficazes e, naturalmente, mais reguladas.
Os números sobre o desemprego nas pessoas com deficiência são dramaticamente elucidativos desta maior vulnerabilidade. A vida de muitas pessoas com deficiência é uma constante e infindável prova de obstáculos, muitas vezes intransponíveis, em variadíssimas áreas como mobilidade, educação e emprego em que a vulnerabilidade e o risco de exclusão são enormes. Assim sendo, exige-se a quem decide uma ponderação criteriosa de prioridades que proteja os cidadãos dos riscos de exclusão, em particular os que se encontram em situações mais vulneráveis.
É verdade, todos o sabemos, que existe uma minoria em Portugal, e não só, que atravessa os tempos de chumbo que vivemos, apenas com ligeiros sobressaltos e sem especial inquietação.
No entanto, existem outras minorias que são, de forma múltipla e acumulada, vítimas destes tempos carregando um fardo demasiado pesado.
As pessoas com deficiência e as suas famílias fazem parte desses grupos.

domingo, 22 de setembro de 2013

Passeios com automóveis não favorece a inclusão!


PROGRAMA ELEITORAL do "Por Beja Com Todos" para o MUNICÍPIO DE BEJA - INCLUSÃO

  
  1.2. PROMOÇÃO DA COESÃO SOCIAL
         Inclusão
         Numa sociedade inclusiva, as relações que as pessoas mantêm e que lhes permitem dar resposta às suas necessidades, desenvolverem-se pessoalmente, participarem na comunidade, obterem e manterem uma qualidade de vida satisfatória – são determinadas pela capacidade ou possibilidade de os cidadãos exercerem os seus direitos e, em particular, os seus direitos sociais, tais como o direito ao trabalho, à habitação, à cultura, à educação, à saúde, ao lazer, entre outros. A defesa dos princípios da Inclusão ganha assim redobrado peso para a defesa de uma Cidadania plena. As especificidades de cada um não podem ser impeditivas do verdadeiro exercício da cidadania plena. A cidade tem de se organizar para acolher TODOS no seu seio.
         Queremos
         " Criar condições para que os principais projectos tenham avaliação dos impactos em termos da inclusão e que as políticas pró-inclusão sejam aplicadas transversalmente em todos os sectores sob a responsabilidade autárquica.
         " Criar um Conselho Consultivo para a Inclusão de Pessoas com Deficiência;      
        " A elaboração de um Plano de Acessibilidades Pedonais, que defina, partindo dos textos legais existentes, qual o âmbito e os prazos de um Plano Pedonal, que terá em conta as competências autárquicas nas “seguintes áreas operacionais”: Vias Públicas; Equipamentos Municipais; Rede de Transportes Públicos; Fiscalização de Construções Particulares; Habitação Municipal; Comunicação com o Munícipe;
         " Promover o Turismo Acessível, através de uma política intermunicipal, que poderá constituir uma poderosa mais-valia e um eixo fundamental de desenvolvimento, atraindo à nossa região turistas que procuram especificamente este tipo de oferta acessível.
         " Elaborar a Carta para a Inclusão da Pessoa com Deficiênciaque sistematize, por um lado, a situação atual no concelho, nomeadamente em termos de recursos e situações concretas dos cidadãos com deficiência, de modo a criar um instrumento de trabalho, conjuntamente com os atores locais, para planeamento e otimização dos recursos já existentes e para fazer o balanço de recursos a criar e de políticas a promover.
                → Apoiar Centros de Vida Independente, que se venham a constituir por vontade e iniciativa de pessoas com deficiência já que a filosofia que encerra esta nova visão, expressa no lema “nada sobre nós, sem nós", assegura um aumento significativo da independência e autonomia do cidadão com deficiência. 
           → Apoiar pais e familiares de cidadãos com deficiência de molde a que os planos de acompanhamento médico e terapêutico (deles e dos filhos) não sejam interrompidos por dificuldades económicas.
       →  Estudar com as instituições de e para pessoas com deficiência formas aconselhamento e acompanhamento das famílias no plano terapêutico e de suporte afectivo.

CNIPE denuncia casos de crianças com multideficiências impedidas de ir à escola - PUBLICO


O dirigente da Confederação Nacional Independente de Associações de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE), Rui Martins, denunciou esta sexta-feira “a situação gravíssima de crianças com multideficiências que estão a ser privadas de frequentar as respectivas escolas, por falta de funcionários operacionais e de docentes do Ensino Especial”.
“Há casos dramáticos, não se pode fechar os olhos a esta situação”, disse Rui Martins, que apontou como exemplo duas crianças, de dois agrupamentos de escolas, um em Cinfães outro em Santa Cruz da Trapa, São Pedro do Sul. Contactados pelo PÚBLICO, os respectivos directores, Manuel Pereira e António Martins confirmaram ter pedido aos pais que mantivessem as crianças em casa, por não reunirem condições para as receber.
“Infelizmente não há um Pedro, há muitos Pedros pelo país, neste momento sem apoio”, lamentou Manuel Pereira, referindo-se à criança de 11 anos cuja mãe denunciou a situação, através da CNIPE. Segundo disse, no agrupamento cortaram 3 das dez vagas para professores do Ensino Especial e a mobilidade resultante do concurso nacional para professores do quadro (que se realiza de quatro em quatro anos) e o atraso na colocação de professores para contratação inicial “fizeram o resto”. “Neste momento tenho apenas um professor dos sete e ainda estamos em fase de selecção da contratação de escola – não há mínima possibilidade de cuidar de uma criança com o nível de dependência do Pedro e de outra criança da escola que está em condições semelhantes”, disse.Ver mais aqui

sábado, 21 de setembro de 2013

INCLUSÃO, UM DESAFIO PARA AS CIDADES DO FUTURO...



Por razões de limitação de espaço o texto inicial foi revisto e adaptado às regras jornalísticas do Diário do Alentejo. Publicamos aqui o texto integral que pode interessar a todos aqueles que se interessam pela problemática da INCLUSÃO.
É necessário conhecer a história para se poder projectar o futuro. Espero ter contribuído para o conhecimento deste processo na nossa região.
Os nossos agradecimentos ao Diário do Alentejo.

As crianças com deficiência e o direito à escola
Texto 1

Pensar hoje na cidade de amanhã é, na actual conjuntura política, mais do que um exercício intelectual é um projecto para a acção.
A mudança está aí: nas ruas, nos grupos informais de cidadãos, nos movimentos cívicos a preparar  a apresentação de candidaturas independentes às autarquias.
Voltámos a reflectir sobre o que queremos para o nosso próprio futuro, para o futuro dos nossos filhos e para o futuro das nossas cidades, tranquilos que estávamos meros espectadores dos projectos partidários.
Ao nível autárquico voltou a hora de participarmos, quer individualmente, que colectivamente na procura de um projecto para os nossos concelhos. 
A promoção da cidadania e, mais concretamente da cidadania das pessoas com deficiência, é um tema que me é particularmente caro. A minha formação profissional e humana, assim como a minha experiência de vida fizeram desta temática motivo do meu interesse e de estudo.

Nos dois textos que vos apresento irei sintetizar e dar a conhecer alguns conceitos e práticas recentes que são susceptíveis de tornar as cidades mais inclusivas, os cidadãos mais participativos e que aplicados a uma cidade podem constituir um eixo estruturante de desenvolvimento.
O primeiro texto pretende fazer uma abordagem histórica do conceito de inclusão nas escolas públicas portuguesas e muito particularmente em Beja e concelhos limítrofes.
O segundo texto pretende reflectir como uma sociedade se pode tornar mais inclusiva, ultrapassando preconceitos, barreiras físicas e comunicacionais, ganhar uma nova dinâmica contribuindo seriamente para a melhoria da qualidade de vida de TODOS os cidadãos

As crianças com deficiência e o direito à escola.

Precisamente há 40 anos no Ministério da Educação, Veiga Simão, num assomo de modernidade, cria a Divisão do Ensino Especial o que contribui para a assunção de que a educação e o ensino de crianças e jovens com deficiência passariam para a esfera da educação e deixariam de pertencer à assistência ou de estarem ao abandono total.
Quebra-se, assim, um ciclo da história do nosso país no que diz respeito ao reconhecimento da cidadania do aluno com deficiência e inicia-se uma nova etapa, uma nova forma de olhar o outro. Até então a criança com deficiência ficava em casa “escondida” ou era “cuidada” em instituições com objectivos assistenciais. Na realidade, só as grandes cidades possuíam, na altura, algumas destas respostas e o número de crianças e jovens “assistidos” era diminuto. A grande maioria não tinha qualquer espécie de apoio. Estas crianças e jovens permaneciam em casa durante toda a vida e não eram objecto, nem eles nem as suas famílias, de qualquer espécie de protecção ou apoio. Estávamos em 1973.

Com o 25 de Abril de 1974 um forte movimento de pais, técnicos e uma administração pública cúmplice (central e local) permitiram que esse amplo movimento trouxesse à luz do dia as enormes carências na área e se criassem respostas educativas para a população com deficiência.
A tónica principal foi, sem dúvida, a da “integração”. Os alunos com deficiência visual, motora e auditiva foram os primeiros a ser integrados nas escolas públicas. As crianças e jovens com deficiência cognitiva beneficiaram, num primeiro tempo, das respostas apoiadas pelas cooperativas e associações de pais e técnicos que rapidamente se espalharam por todo o país. As Cercis têm origem nesses anos imediatos ao pós 25 de Abril de 1974 e representaram um papel muito importante no atendimento educativo a crianças e jovens com problemas cognitivos e outros.

Nestas quatro décadas, esta política sofreu recuos e avanços, mas nunca deixou de ser o principal objectivo das famílias, das pessoas com deficiência e dos técnicos deste país.

Volvida uma década – Beja é pioneira na “integração” e em experiências inovadoras inter-serviços.

Na zona sul, a Divisão do Ensino Especial desenvolveu no Alentejo e no Algarve um intenso trabalho de criação de diversas estruturas não só de apoio mas também de diagnóstico e encaminhamento, bem como na área da formação de professores.
Referindo-me apenas a Beja e concelhos limítrofes a CERCIBEJA foi a primeira estrutura de apoio a ser criada, seguiu-se a criação da Equipa de Ensino Integrado (E.E.I.), o Centro de Paralisia Cerebral (C.P.C.), a escola de apoio a alunos com Deficiência Auditiva. Além de Beja, Serpa e Aljustrel são alguns dos concelhos em que, mercê de uma articulação inter-serviços, se desenvolvem uma série de respostas educativas inovadoras que vão ser objecto de estudo e de referências muito positivas de técnicos da OCDE. Entretanto, pais organizados em cooperativas lutam e conseguem erguer outras respostas, o caso de CERCICOA (Almodôvar, Ourique e Castro Verde) e mais tarde ainda a APPACDM de Moura.

Foi elaborado o diagnóstico da situação escolar no concelho de Aljustrel e Serpa que levou à criação das primeiras Salas de Apoio integradas (S.A.) a alunos com necessidades educativas especiais (n.e.e.). Estiveram envolvidos neste estudo a Administração Regional de Saúde (A.R.S.), os Centros de Saúde, os Concelhos Escolares locais e a Divisão do Ensino Especial (D.E.E.). Constitui-se uma equipa de diagnóstico e encaminhamento escolar a nível do concelho de Beja envolvendo novamente a A.R.S,. a D.E.E., a equipa de Ensino Especial (E:E.E.). Em todos estes trabalhos foi decisivo a colaboração das autarquias. A introdução de temáticas específicas do apoio à população com deficiência no currículo da Formação Inicial de Educadoras de Infância e dos Professores, em colaboração com a Escola do Magistério Primário de Beja, reflectiu-se no aumento do número de crianças apoiadas, graças à mudança de atitude dos profissionais face à inclusão. Nunca será demais referir o carácter de colaboração e partilha de recursos humanos e materiais dos serviços locais e regionais que, elaboraram estudos, levantamentos e propuseram respostas educativas tendo em conta as realidades locais objectivas sem que toda esta actividade correspondesse a um aumento da despesa dessas instituições.

Em Junho de 1985, Beja apresenta-se no Terceiro Encontro de Educação Especial em Lisboa com cinco intervenções fazendo eco da situação atrás descrita. As comunicações envolveram relatos de diversos serviços e instituições, nomeadamente serviços de saúde, educação, segurança social, saúde mental, Magistério Primário e o Centro de Paralisia Cerebral. Vivia-se um ambiente de intenso trabalho de partilha e de procura de soluções no que diz respeito ao diagnóstico dos alunos com deficiência e na procura de soluções.

Duas décadas volvidas – a Declaração de Salamanca, um marco internacional importante para a Educação Inclusiva.

Em 1994, a Declaração de Salamanca, organizada pelo Governo de Espanha em cooperação com a UNESCO, elaborou o texto pelo qual todos nós, técnicos e pais, esperávamos. Os documentos que compõem esta Declaração são inspirados pelo princípio da inclusão e pelo reconhecimento da necessidade de actuar com o objectivo de conseguir “escolas para todos” instituições que incluam todas as pessoas, aceitem as diferenças, apoiem a aprendizagem e respondam às necessidades individuais dos alunos. A Declaração define os princípios, a política e as práticas na área das necessidades educativas especiais (n.e.e.) e indica um enquadramento para a acção.
Este documento foi um importante guia para a promoção e defesa da educação inclusiva e os Estados vieram progressivamente a legislar no sentido proposto na Declaração de Salamanca. Assim as nossas escolas foram progressivamente adoptando estas medidas.

A actual situação da Educação vem colocar em perigo todas estas conquistas assim como muitas outras medidas já anteriormente adoptadas facilitadoras da inclusão. De novo pais, educadores e alunos com deficiência, assim como a sociedade em geral tem motivos de preocupação pois, o que se antevê com a diminuição de recursos e meios materiais e humanos para as escolas, só podem colocar mais uma vez em causa os princípios e a prática da inclusão.


Quarenta anos depois...

Quarenta anos depois do início do serviço de educação especial, em 1973, podemos dizer que todos os alunos desta geração conviveram na escola, durante vários anos, com crianças e jovens com deficiência e que estes tiveram pela primeira vez na história do nosso país, o direito de partilhar além de espaços escolares comuns, momentos de convívio e de estudo. Turmas heterogéneas, em que os alunos podem conviver com as diferenças e aprender a respeitá-las, são uma aprendizagem para a vida. Utilizam-se métodos de ensino mais abrangentes, mais focados no potencial de cada um. A diversificação dos percursos de educação e formação e a introdução das novas tecnologias são instrumentos facilitadores da inclusão.

Hoje, Beja e concelhos limítrofes, dispõe de um conjunto de estruturas e respostas educativas que abrange um número considerável de alunos e adultos com deficiência em projectos diversificados. Além da CerciBeja, Cercicôa a APPCDM de Moura funciona também o Centro de Paralisia Cerebral (C.P.C.). Estas instituições mantem valências diferenciadas e o C.P.C., mercê de um acordo com a saúde, faz o diagnóstico e acompanhamento de crianças e jovens altamente especializado. Todas estas instituições oferecem respostas muito diversas e específicas e algumas delas possuem lares.

Dependentes do Ministério da Educação e funcionando nas escolas encontramos estruturas para alunos com multideficiência (Unidades) nas escolas de Santiago Maior e Mário Beirão, sendo que algumas destas respostas recebem também alunos com baixa visão associada. Aljustrel, Ferreira e Moura também dispõem de Unidades para alunos com Multideficiência. Algumas destas Unidades dispõem de apoio especializado em autismo devidamente equipadas. O apoio a alunos com deficiência auditiva é uma realidade e é praticada em algumas escolas da cidade de Beja. O Centro de Recursos para a Inclusão (CRI) funciona na Escola Mário Beirão e dá apoio técnico e especializado às respostas educativas no terreno. Também a Intervenção Precoce é uma realidade e envolve vários serviços e ministérios, apoiando crianças desde o nascimento.

O Instituto Politécnico de Beja mantém, desde 1999, um acordo com o C.P.C. que tem permitido desenvolver “o estudo e desenvolvimento de soluções tecnológicas para apoio a pessoas com necessidades especiais”(1), particularmente “sistemas de apoio a pessoas com dificuldades de comunicação (Sistemas de Comunicação Aumentativa e Alternativa)”(1)

Existem pólos de associações de pessoas com deficiência nomeadamente a Associação Portuguesa de Deficientes e de pessoas com deficiência auditiva. A recente associação “Habilitar Alentejo” vem preencher uma lacuna na promoção da ocupação dos tempos livres e do período das férias numa perspectiva inclusiva, prestando ou podendo vir a prestar um valioso apoio às famílias e às crianças e jovens.

Toda esta actividade envolve centenas de pais, professores médicos e outros técnicos, assistentes sociais, psicólogos, terapeutas (da fala, fisioterapeutas, ocupacionais e da psicomotricidade), tradutores de língua gestual e muitos outros profissionais que acompanham o dia-a-dia das crianças e jovens com deficiência.

As instituições e as escolas promovem actividades que envolvem a comunidade no sentido de dar a conhecer os seus projectos inclusivos: exposições, debates, apresentações públicas, seminários, etc.

Adultos, pais, professores, restantes educadores habituaram-se a que, pelo menos, neste espaço restrito que é a escola coexistisse um esforço de adaptação quer em termos de acessibilidades, quer em termos de comunicação global para receber com dignidade os novos alunos. Foi um longo caminho e hoje, senão fosse o retrocesso que a escola pública esta a enfrentar, diríamos que se poderia assim garantir uma escola para todos.

Mas se na escola pública se cumpriu a cidadania promovendo a inclusão, o mesmo não se pode dizer noutras áreas da vida social e cultural, nem tão pouco noutros ministérios, e isso é evidente na formação profissional, no emprego, nas acessibilidades (dimensões estruturantes de uma cidadania plena). O acesso a ajudas técnicas, o desenvolvimento e aplicação das novas tecnologias como facilitadores da comunicação ainda não estão completamente assegurados. A criação de serviços mediadores e facilitadores de acesso aos serviços e aos bens culturais, de lazer e de desporto estão longe de ser uma realidade.

A participação plena e efectiva na sociedade da pessoa com deficiência, em igualdade de condições com os outros cidadãos tem um longo caminho a percorrerem.

Uma cidade inclusiva não é uma utopia, é um direito para uns e uma dever para a sociedade.


No próximo texto tentaremos abordar genericamente algumas obstáculos físicos e comunicacionais muito comuns na nossa sociedade e como estes constituem num entrave à inclusão.

(1)
Luís Garcia, CV resumido

José R.R.Janeiro

Terapeuta da psicomotricidade

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As crianças com deficiência e o direito à escola
Com o 25 de Abril de 1974 um forte movimento de pais, técnicos e uma administração pública cúmplice (central e local) trouxeram à luz do dia as enormes carências na área de apoio a crianças e jovens com deficiência, o que permitiu que se criassem respostas educativas para a população com deficiência.
A tónica principal foi, sem dúvida, a da “integração”. Os alunos com deficiência visual, motora e auditiva foram os primeiros a ser integrados nas escolas públicas. As crianças e jovens com deficiência cognitiva beneficiaram, num primeiro tempo, das respostas apoiadas pelas cooperativas e associações de pais e técnicos que rapidamente se espalharam por todo o país.



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