Em Portugal falta reconhecimento profissional às pessoas que intervém na reabilitação das deficiências auditivas
No dia 10 de Outubro, comemorou-se o Dia Mundial do Audiologista. Este profissional de saúde intervém no diagnóstico e reabilitação da deficiência auditiva. Sendo um profissional altamente especializado julgar-se-ia que poderia ter mais reconhecimento profissional por parte dos órgãos de soberania do país. Mas olhando a forma como esta deficiência é tratada pelos decisores políticos e financeiros do país, não é de admirar que este profissional seja mais um num pesado e desmotivante sistema de saúde nacional. Parca é a ajuda do Estado na aquisição de sistemas auditivos; quando o faz, por ajudas técnicas, frequentemente privilegia o baixo custo em detrimento da adequabilidade à deficiência auditiva do paciente. Alguns equipamentos são considerados artigos de luxo e portanto menos acessíveis, não sendo valorizados os efeitos do seu uso a longo prazo. Tome-se o caso dos sistemas de apoio à escuta para crianças com surdez em idade escolar. De uso obrigatório nas escolas dos países do Norte da Europa, são uma raridade em Portugal. Estes sistemas potenciam os benefícios obtidos com os aparelhos auditivos na sala de aula, permitindo uma melhor instrução e por conseguinte melhor literacia destes indivíduos. Resultaria na formação e integração de profissionais mais qualificados e mais válidos para o mercado laboral, com todos os benefícios daí inerentes. A melhor gestão destes recursos poderia passar pela otimização dos centros de excelência para a deficiência auditiva, com atribuição de verbas e responsabilidades na aquisição destes equipamentos, bem como a implementação de uma base de dados nacional evitando duplicações de atribuições de ajudas técnicas. Os reduzidos recursos económicos disponibilizados pelo Estado seriam canalizados para pessoas verdadeiramente mais necessitadas.
Ao consultar os únicos dados disponíveis que datam dos Censos de 2001 verifica-se que cerca de 70% dos indivíduos portadores de deficiência auditiva não possuem rendimentos próprios nem grau de incapacidade atribuído. A inclusão do audiologista em equipas de avaliação poderia melhorar a análise destes indivíduos na atribuição de um grau de incapacidade adequado às suas dificuldades.
A Associação Portuguesa de Audiologistas deseja aproveitar esta data para alertar para a necessidade de rentabilizar o grande investimento efetuado pelo país na formação destes profissionais, relembrando que não existe no Plano Nacional de Saúde a obrigatoriedade de se efetuar o rastreio auditivo neonatal, pré- -escolar ou escolar. Este último é realizado em consultas de surdez escolar ou por equipas de intervenção precoce, qualquer delas não incluindo um audiologista. Por fim, alerta-se para a necessidade de criar uma rede de referenciação eficaz que dê resposta aos indivíduos identificados com deficiência auditiva e seus familiares, agilizando uma intervenção técnica adequada e atempada que potencie as capacidades do indivíduo, promovendo a sua integração familiar, académica e socio-profissional.
Presidente da Associação Portuguesa de Audiologistas
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