domingo, 5 de julho de 2015

Férias - Público - Daniel Sampaio

DANIEL SAMPAIO
Começou o Verão, o tempo tem estado muito bom, os exames estão a terminar, as famílias começam a pensar em férias. E é bom que assim seja, embora nunca possamos esquecer que, para muitos portugueses desempregados ou com pouco dinheiro, a simples ideia de uns dias descansados fora de casa seja uma angustiante impossibilidade.
Nos empregos, os pais (quase sempre as mães) aparecem com os filhos, quando as chefias são compreensíveis e as administrações fecham os olhos. Vemos então crianças e adolescentes mais ou menos contrariados, a transportar fichas de trabalho escolar que raramente utilizam ou a disfarçar a vontade de espreitar o computador do serviço. Alguns fazem desenhos coloridos, experimentam colagens a partir de revistas utilizadas a medo ou brincam com alguém da mesma idade que também não ficou em casa. Os pais vivem com ansiedade esses momentos e o seu próprio desempenho deve ressentir-se, porque o tempo passa devagar, a dividir-se entre tomar conta do filho ou obedecer ao chefe. A colega do lado, que há muitos anos casou com o trabalho e não tem crianças a seu cargo, murmura desabafos críticos com o funcionário divorciado que só vê os filhos aos fins-de-semana e não tem necessidade de os ter por ali: embora sorriam para os mais novos, na verdade não gostam que lá estejam, fazem barulho e mexem no computador, nos clips e nos papéis, quem sabe se foram eles que perderam aquele pequeno recado escrito que a chefe acabou de deixar.
Continuar a ler aqui

Sem comentários:

Enviar um comentário