Uma trupe que coloca a sua arte a serviço da inclusão e da transformação social. Assim pode ser definido o grupo Os Inclusos e os Sisos - Teatro de Mobilização pela Diversidade, que aborda em seus espetáculos questões relacionadas às múltiplas formas de discriminação e ao cotidiano de pessoas com deficiência.
O caminho do humor foi escolhido para estimular a reflexão em todas as faixas de público. "É por meio do humor que conseguimos chamar a atenção da plateia, que não apenas se diverte, mas também reflete sobre suas próprias atitudes, quando percebe o que realmente existe por trás dos exageros e das situações patéticas mostradas pelos nossos personagens", conta o ator Bruno Perlatto, integrante original do grupo.
A companhia foi criada há sete anos, a partir de uma iniciativa da atriz Talita Werneck, que mobilizou outros colegas do curso de Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Os jovens fizeram uma parceria com a Escola de Gente - Comunicação em Inclusão e já criaram dezenas de esquetes, apresentados em vários estados do Brasil e até no exterior, em teatros, escolas, comunidades, empresas, faculdades, entre outros locais.
As performances têm como objetivo mostrar que ninguém é igual e ressaltar que as pessoas podem ser agentes de discriminação, mesmo sem querer. Além disso, todos estão sujeitos ao preconceito em qualquer lugar e momento.
A jornalista Claudia Werneck, fundadora da Escola de Gente e uma das pioneiras na disseminação do conceito de sociedade inclusiva na América Latina, defende a ampliação da ótica sobre o assunto. "Precisamos achar novas formas de praticar a inclusão e entender esse conceito. Não se trata de incluir quem está fora, porque aqui dentro está ótimo, tudo é exemplar, mas de criar um mundo sem polaridades". Claudia valoriza o papel da juventude nessa reestruturação. "Os Inclusos são um exemplo do potencial criativo e de ação dos jovens. A partir do desejo deles de viabilizar o projeto, sentamos para trocar ideias. Passei livros de minha autoria e de outros escritores e o grupo se mobilizou de tal forma para estudar o tema que o resultado não demorou. Logo criaram o primeiro esquete, já muito bem feito", diz a jornalista.
Primeira peça brasileira com diversos recursos de acessibilidade
Marco na trajetória da companhia, o espetáculo Ninguém mais vai ser bonzinho foi a primeira peça do teatro brasileiro com diversos recursos de acessibilidade na comunicação, simultaneamente. A encenação, que contava com um intérprete da Língua de Sinais Brasileira, legenda eletrônica, audiodescrição e programas em braile, estreou no Rio de Janeiro em 2007 e percorreu várias regiões do país.
O ator Fabio Nunes relembra um dos episódios marcantes da temporada. "Em Recife, um menino cego de 12 anos disse que a parte que mais gostou foi a cena da dança do meu personagem. Falou até que eu dançava como o Michael Jackson. O recurso da audiodescrição permitiu que ele acompanhasse tudo. Gostei de ver que o garoto foi, de fato, incluído".
Outra história destacada pelo grupo foi a de um senhor, também com deficiência visual, que descreveu ter vivenciado uma sensação inédita durante um espetáculo. "Ele contou que, pela primeira vez, teve o prazer de rir ao mesmo tempo que as demais pessoas na plateia", diz Bruno Perlatto. O ator relata o processo de empatia com o público: "Diversas respostas mostram a identificação das pessoas, como o riso. Há vários tipos, o riso nervoso, o instável... Sabe aquela reação, devo ou não rir? Também acontece.". Segundo Bruno, o impacto do trabalho fica mais claro quando há debates após as apresentações: "Muita gente conta as suas experiências. Essa troca é eficaz e esclarecedora".
Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro
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